segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Caminhante / António Machado * Antonio Cabral Filho - RJ

Antonio Machado
Poeta Espanhol

Poesia Latina
http://blogs.utopia.org.br/poesialatina/biografias/antonio-machado/
*
Caminhante

Tudo passa e tudo fica
porém o nosso é passar,
passar fazendo caminhos
caminhos sobre o mar

Nunca persegui a glória
nem deixei na memória
dos homens minha canção
eu amo os mundos subtis,
leves e gentis,
como bolas de sabão

Gosto de vê-las pintar-se
de sol e grená, voar
debaixo do céu azul, tremer
subitamente e quebrar-se…

Nunca persegui a glória

Caminhante, são tuas pegadas
o caminho e nada mais;
caminhante, não há caminho,
se faz caminho ao andar

Ao andar se faz caminho
e ao voltar a vista atrás
se vê a senda que nunca
se há de voltar a pisar

Caminhante não há caminho,
senão sulcos no mar…

Há algum tempo neste lugar
onde hoje os bosques se vestem de espinhos
ouviu-se a voz de um poeta gritar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar”…

Golpe a golpe, verso a verso…

Morreu o poeta longe do lar
cobre-lhe o pó de um país vizinho.
Ao afastar-se viram-no chorar
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso…

Quando o pintassilgo não pode cantar.
Quando o poeta é um peregrino.
Quando de nada nos serve rezar.
“Caminhante não há caminho,
se faz caminho ao andar…”

Golpe a golpe, verso a verso. 

(in divagacoesligeiras)
*

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