sexta-feira, 13 de maio de 2016

Antonio - Algo Sobre * Antonio Cabral Filho - RJ

Antonio - Algo Sobre
Ao criar este blog, minha intensão não foi divulgar livro nem autor algum; apenas reunir um acervo de escritores e poetas chamados ANTONIO. Só que a partir daí, a própria palavra se ergueu à minha frente, como que falando de si própria ou querendo uma explicação dos seus significados. Foi aí que veio à tona em minhas lembranças um texto que fiz em forma de crônica falando sobre um menino chamado ANTONIO, aonde ele questiona o seu nome, que vínculos ele teria com a cultura negra ou indígena, ou seja, com as raízes do menino, um indiozinho desaldeiado pelo avanço da grilagem num lugar que poderia ser a Ilha do Bananal de um mato-grosso ou goiás desse brasilzão sem mãe preta nem pai juão que lhe salve da chegada do branco, que se apodera de sua mãe e lhe escraviza enquanto mulher e mão de obra. É por isso que apresento-lhes

JAVAÉ

Minha história começa pelo nome: Antonio.
Por ser filho de ambiente natural, onde os nomes são transparentes e
todos sabem seus significados, a palavra Antonio me causava
estranheza, por não saber o seu significado.
Passei a infância brincando com Coaraci, Jaci, Peri, cunhatans e
curumins da minha taba, nomes tirados por meu povo da sua relação com
a natureza onde vivia.
Mas a minha gente aceitava que um estranho chegasse e se juntasse a
nós, se casasse com uma cunhan da tribo e até que chegasse ao posto de
Ubirajara. Isso levou ao surgimento de nomes como o meu, Antonio; além
de outros como Maria, Ana, Francisco, Tereza etc, todos ligados a uma
religião baseada numa cruz e num homem branco que chamam de Jesus
Cristo, e, aos domingos, íamos à igreja deles.
Meu pai era um homem branco. Ele raptara minha mãe e a levara para um
cafezal, onde eu nasci. Depois, viemos morar com a família dela na
aldeia.
Até hoje eu não sei o que nos fez viajar no meio da noite, cruzando
rios a nado, florestas e montanhas no maior silêncio que eu já vi, sem
cortar arbustos nem cipós para abrir caminho ou fazer pousada sequer à
noite. Sei somente que minha mãe seguia na frente, comigo escanchado
ora nas costelas ora nas costas e, quando ela parava com o dedo
indicador sobre os lábios, era sinal de que havia perigo. Por diversas
vezes passamos ervas no corpo, para não atrair a sanha dos animais com
o cheiro do sangue humano.
Mas com o tempo eu fui percebendo algumas curiosidades sobre a palavra
Antonio: Nome de um santo que promove o casamento, uma espécie de deus
dos casais. Descobri depois que o seu dia é treze de junho, época de
festa junina, quando se faz quadrilha com todos fantasiados de
agricultor para comemorar as colheitas. Dessa época, eu preferia as
batatas assadas na fogueira, o milho cozido, os doces, as broas etc.
Pude notar que se tratava de santo festeiro, partidário da fartura e
certa liberdade de gula.
De surpresa em surpresa, caí sobre um dicionário de nomes próprios,
onde encontrei a surpreendente explicação sobre Antonio: Aquele que
não se vende, incorruptível, puro de espírito, que protege os pobres e
as crianças.
Depois de refletir sobre tudo que levantei a respeito do meu nome,
calei-me mais ainda sobre minhas desconfianças e rejeição a esses
nomes ligados a esse tal de Jesus e jamais revelei por que sempre me
apresentei pelo apelido de Javaé.
Certa vez meu pai deu-me a tarefa de capinar o matagal ao redor da
nossa oca, casa segundo ele, e ao terminar e amontoá-lo para queimar
depois de seco, foi-me entregue uma nota de dinheiro, para eu comprar
balas no domingo, após a missa dos cristãos. Então, lembrei-me do meu
nome, Antonio, incorruptível, que não se vende, lá do dicionário, e
perguntei ao meu pai se ele estava me comprando, me corrompendo, por
eu ter realizado uma coisa boa para todos nós, como a segurança de
não haver nenhuma boiúna tocaiando nossos pintinhos, minha mãe deixou
claro que não gostou por ter lhe tirado o único local aonde pôr a
roupa para quarar e minhas amigas de brincadeiras chiaram por ficarmos
sem a relva onde estender as esteiras para tomarmos sol deitados.
Vendo meu embaraço, ante as três insatisfeitas, meu pai chamou-me e
disse ao pé do ouvido:
- Compra tudo de bala e dá duas para cada uma que elas esquecem logo-logo!
- Como o senhor é corrupto! Exclamei, mas não tive outra saída.

*
Bom, espero que tenha gostado da leitura do Javaé, mas queria lhe convidar para conhecer estes dois caboclos a seguir e desejo, sinceramente, que busquem os materiais deles, pois o Hugo faz do seu ANTONIO um porta-bandeira de causas sociais
Hugo Monteiro Ferreira, 
http://www.emcasacomsofia.com/2012/10/sem-chocar-ou-provocar-medo-livro.html ,
 com seu livro ANTONIO, que aborda os problemas da violência sexual em diversos ambientes, inclusive o familiar; 
Eu Me Chamo Antonio, 
um livro estratagema, em que o autor vive o que está falando ao leitor. Acho interessante a engenhosidade com que ele vai construindo a narrativa. Se ele não tivesse outra intensão a não ser manter o leitor envolvido, nada funcionaria. Mas vale a pena no que tange ao universo psicológico, pois a curiosidade em saber no que vai dar, arrasta o sujeito:
"Já senti falta do meu choro quando nasci e do seu colo agora que cresci. Da ardência nos olhos por causa do cloro da piscina na casa vizinha. De quando eu brincava sozinho de astronauta, ou caubói, ou soldado de um exército solitário. Eu me achava as Forças Amadas. Acreditava que salvaria o mundo. Bobo! E, quando acordava cheio de energia, eu juntava as minhas três profissões imaginárias: pisava na lua, subia no meu cavalo-sideral e atirava palavras bonitas nos cometas mais temerosos! "
Confira
http://www.eumechamoantonio.com/ 

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